
Kleyton de Souza Silva foi identificado como líder da organização criminosa alvo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) durante a Operação Blindagem, deflagrada na última sexta-feira (7). O criminoso foi responsável pela compra dos mais de 100 quilos de cocaína furtados pelo então delegado de Polícia Eder Oliveira, titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Aquidauana, em 2019.
As investigações contra a organização criminosa encabeçada por Kleyton tiveram início em julho de 2022. Na época, um celular havia sido apreendido em uma cela do Estabelecimento Penal de Aquidauana. Assim, após toda a análise do aparelho, foi constatado que a pessoa que fazia o uso dele era, por fim, o líder criminoso.
Diante do exposto, ficou constatado que ele comandava uma organização criminosa armada, na época composta por mais de quatro pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas. O objetivo da organização era obter vantagens financeiras mediante a prática de crimes de tráfico de drogas interestadual, usura — cobrança de juros excessivos — e comércio ilegal de arma de fogo.
‘Companheiro do PCC’
As investigações iniciais apontaram que Kleyton também era companheiro da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Isso porque ele utilizava diversos contatos como membro de alta cúpula da organização para desenvolver as atividades no tráfico de drogas e se utilizar da estrutura criminosa.
Assim, o denunciado aplicava punição a outros integrantes que tinham dívidas com ele — normalmente decorrentes de outros crimes.
Permanência em presídios de segurança média
Segundo o processo do Gaeco, os ex-chefes da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Alírio Francisco do Carmo e Aud de Oliveira Chaves, atuaram para garantir a permanência de Kleyton em unidades prisionais de segurança média — o que é incompatível com seu perfil de liderança e periculosidade.
Foi constatado também que Alírio realizava transferências dos desafetos de Kleyton para outros estabelecimentos penais. Além disso, fornecia informações sigilosas do sistema Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional) e Seeu (Sistema Eletrônico de Execução Unificado) para o líder.
Ainda, Aud, à época, manteve contato direto com a tia de Kleyton e foi responsável por assegurar que ele não fosse transferido para o Estabelecimento Penal de Segurança Máxima. Assim, ele ficou em uma unidade prisional mais branda, o que, segundo as investigações, contribuiu diretamente para a continuidade e expansão das práticas criminosas coordenadas dentro do presídio.
O que diz a Agepen?
Confira a nota da Agepen:
“A Agepen informa que a operação mencionada não tem como alvo servidores atualmente em exercício nas unidades penais do Estado. Ainda assim, a Corregedoria da Instituição instaurou procedimento administrativo disciplinar para apuração dos fatos.
De acordo com o Gaeco, a operação é fruto de investigação iniciada há mais de dois anos.
A Agepen repudia qualquer prática ilícita ou ato de corrupção e atua de forma integrada com os demais órgãos de segurança e de justiça para coibir tais condutas. A instituição trabalha de maneira contínua para impedir o acesso indevido de internos a meios de comunicação externa, investindo constantemente em tecnologia e na capacitação de seus policiais penais para fortalecer esse enfrentamento.”
‘Sumiço’ de cocaína
O então delegado de Polícia que atuou em Aquidauana, Eder Oliveira Moraes, foi condenado a 14 anos e sete meses de prisão em regime fechado pelo ‘sumiço’ da cocaína da delegacia em junho de 2019. Além disso, ele também perdeu o cargo.
Eder foi preso em junho de 2019. O então delegado havia sido denunciado pelo Ministério Público em agosto do mesmo ano, por integrar organização criminosa voltada para o tráfico de drogas. Com intermédio da advogada Mary Stella Martins de Oliveira, ele beneficiava a traficante Sandra Ramona da Silva ao fornecer informações privilegiadas.
Conforme investigações do Gaeco, Stella era tida como ‘amiga’ por Ramona, pois lhe abastecia com dados sobre localização de fiscalizações feitas pela polícia, os quais haviam sido repassados inicialmente pelo delegado. Eder, em contrapartida, recebia propinas de Sandra. Os fatos foram descobertos por meio de interceptações telefônicas.
Consta na denúncia, inclusive, que Stella tinha acesso livre ao gabinete do delegado enquanto ele esteve na 1ª Delegacia de Polícia Civil de Aquidauana, onde era informada sobre investigações, em especial àquelas que envolviam a comparsa Ramona. Os próprios policiais civis desconfiavam haver vazamento, pois todas as vezes que tentavam abordar Ramona, nunca conseguiam flagrar nada de ilícito com ela.

Operação Blindagem
A Operação Blindagem teve como objetivo desmantelar uma organização criminosa dedicada ao tráfico interestadual de entorpecentes, corrupção ativa e passiva, usura, comércio ilegal de armas de fogo e lavagem de capitais.
A estrutura era comandada de dentro do sistema prisional e contava com uma rede de colaboradores em Campo Grande, Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Jardim, Sidrolândia, Ponta Porã e Bonito, além de integrantes nos estados de São Paulo e Santa Catarina.
As investigações revelaram que a organização atuava em diversas frentes, enviando drogas para cidades do interior do Mato Grosso do Sul e para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás, utilizando diferentes métodos.
Vínculos com PCC
Foram constatados vínculos da organização criminosa com o PCC (Primeiro Comando da Capital), que fornecia suporte por meio de membros de sua alta cúpula, para ampliar o tráfico e aplicar punições violentas a quem estivesse em débito com o grupo criminoso.
Assim, as investigações conseguiram identificar práticas de extorsão mediante uso de arma de fogo, violência e restrição da liberdade de vítimas, justamente para a obtenção do pagamento de dívidas oriundas do tráfico de drogas e da usura, outra prática levada a efeito pela organização em tela.
Segundo o Gaeco, o trabalho investigativo teve origem a partir da apreensão do telefone celular do líder da organização criminosa, que utilizava o aparelho de dentro de uma cela de presídio no interior do estado. Com isso, foi possível chegar à outra faceta do grupo criminoso, a corrupção de servidores públicos.
Os servidores garantiam a ele o acesso a aparelhos celulares, informações sigilosas de sistemas restritos ao estado e, o mais importante, à permanência em presídios menores, no interior do Estado, de onde coordenava livremente as práticas ilícitas.
Confira a lista completa de presos:
- Alexssandro Pereira Silva
- Alírio Francisco do Carmo
- Brenda Yasmin Martins de Freitas
- Daniel Ferreira Dornelles
- Francisco Assidir Nogueira Sutil
- João Rodival Balbuena
- Johan Fabiano Rodrigues Lescano
- Karoliny de Oliveira Faria
- Kleyton de Souza Silva
- Lana da Silva Gonçalves
- Luana da Silva Gonçalves
- Lucas Wesley de Souza Santo
- Michel Lescano dos Santos
- Monique Siqueira Lopes Meireles
- Osvaldo Vianna dos Santos Júnior
- Paola da Silva Januário
- Selma Nunes Roas
- Shirlei Martins
- Tiago Paixão Almeida
- Luan Guilherme Lindner Bettoni
- Luiz Otávio da Silva Silveira
- Maro Aurélio Ribeiro
- Dayane Silva de Aguiar
- Diego da Silva Frameschi
- Ivanir Fernanda dos Santos Nunes Rodrigues
- Glaucimar Queiroz Machado
- Mauro Ricardo Fabreau
- Fabrício Aparecido da Silva Guilherme
MMN/ML








