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Alto custo foi motivo que levou Estado a deixar de fazer transplantes de coração

Agência Brasil

A complexa cirurgia de transplante de coração pode não estar mais sendo realizada em Mato Grosso do Sul por conta do alto custo operacional para os hospitais.

A reportagem do Correio do Estado entrou em contato com membro da equipe de transplantistas da Santa Casa de Campo Grande, que tinha a autorização para realizar as cirurgias. Conforme a pessoa, que preferiu não se identificar, foram vários motivos que levaram à desabilitação do programa de transplante cardíaco, mas o principal era o valor do procedimento.

A tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) muitas vezes não contemplava todos os custos elevados das fases pré e pós-transplante, em razão do tempo que o paciente precisava ficar internado.

Um paciente que precisa de transplante fica internado por longos períodos, de dias até meses, porque pode depender de medicamentos aplicados na veia ou até de aparelhos de suporte ventricular.

Além do período internado esperando uma doação de coração, quando consegue o transplante, o paciente fica semanas em leito de UTI, com necessidade de hemodiálise, exames complementares e procedimentos mais invasivos para evitar a rejeição do órgão implantado.

De acordo com o membro da equipe de transplantistas, o Estado ainda segue com médicos com competência para fazer transplantes cardíacos em Campo Grande, mas, por conta da desativação deste serviço em Mato Grosso do Sul, o investimento para se ter o de volta retornou à estaca zero.

Para quem é morador de Mato Grosso do Sul e necessita do transplante, é necessário ser encaminhado para tratamento fora de domicílio (TFD), o qual é custeado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), para que a cirurgia seja feita em hospitais de outros estados.

“Nem sempre é possível conseguir vaga em hospitais de fora do Estado, a perda do paciente em fila é muito sofrida pela família e por todos os envolvidos. Espero que nossos gestores em saúde possam pensar na possibilidade de retomar nosso serviço de transplante cardíaco em Mato Grosso do Sul”, disse o membro da equipe de transplantistas.

NOVO CORAÇÃO

Em busca de um novo coração, Elessandra Cruz dos Santos, de 48 anos, conseguiu em janeiro deste ano realizar seu transplante, depois de seis anos na fila.

Elessandra é cabeleireira e trabalhava em cozinha industrial, registrada como auxiliar de cozinha. O infarto que ela sofreu há seis anos ocasionou sequelas no coração, com a perda de 70% de sua função.

Dois anos depois, Elessandra foi considerada apta para transplante, porém, os exames pré-cirurgia detectaram que ela não poderia passar pelo processo.

“Foi constatado em exames que eu tinha uma insuficiência pulmonar muito alta, mas surgiu uma oportunidade de colocar um coração artificial e fiz a cirurgia no dia 6 de outubro de 2020, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo”, disse Elessandra.

No ano passado, Elessandra precisou ser internada na Santa Casa novamente, por conta de um problema no funcionamento do coração artificial.

Com oito meses internada no hospital, Elessandra foi transferida de UTI aérea para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde permaneceu para aguardar uma doação de coração e realizar o transplante.

A cirurgia foi realizada em São Paulo, por meio do SUS, na estrutura operacional do hospital, onde correria menos riscos na cirurgia por conta do coração artificial.

COMPLEXO

A reportagem do Correio do Estado entrou em contato com a médica cardiologista Amanda Benfatti para entender como funciona o processo de constatação da necessidade do transplante do coração, os métodos de doação e o processo pós-operatório.

De acordo com a cardiologista, a insuficiência cardíaca é o primeiro sinal da necessidade de transplante, que tem como principais sintomas: falta de ar, fadiga/cansaço, tosse noturna, batedeira no peito, enjoo, ganho rápido de peso e aumento do inchaço nos pés, pernas pés e tornozelos.

“Na presença desses sintomas, o cardiologista deverá investigar o paciente com exames cardiológicos, em especial o ecocardiograma, exame que confirma a disfunção do coração. No casos de pacientes com disfunção grave, que não melhoram, indica-se o transplante cardíaco, devendo eles serem listados na Central de Transplantes, que é única no Brasil”, informou Amanda Benfatti.

A médica também acrescentou que, além de critérios clínicos, existem outros quesitos que são avaliados para o paciente ser candidato ao transplante de coração.

Além da gravidade dos sintomas, inclui-se a necessidade de medicamentos para manter o coração bombeando e a pressão estável, a compatibilidade sanguínea, entre outros fatores.

De acordo com Amanda, os critérios estabelecidos para doadores de coração são: morte encefálica registrada; consentimento da família; idade menor que 50 anos; compatibilidade sanguínea entre doador e receptor; ausência de doença cardíaca prévia; peso compatível; e ausência de neoplasia maligna.

SEM AUTORIZAÇÃO

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Saúde informou que, atualmente, no MS, 414 pessoas aguardam por transplante de córneas, 160 por rim e 3 pacientes esperam por um transplante de coração em Mato Grosso do Sul.

A SES confirmou que Mato Grosso do Sul não tem equipe e hospital autorizados para a realização do transplante de coração, então, os pacientes que estão na fila para esse tipo de transplante são encaminhados para outros estados que realizam o procedimento.

Neste ano, Mato Grosso do Sul realizou apenas um transplante de coração, em março, no Hospital da Cassems, quando o local ainda era habilitado para realizar o procedimento.

A Santa Casa de Campo Grande, que também tinha autorização para realizar a cirurgia, registrou o último transplante de coração em 2021.

A reportagem entrou em contato com o hospital para saber os motivos que teriam levado à desabilitação das cirurgias de transplante, mas o centro médico não respondeu até o fechamento desta edição.

A SES também informou que a lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada.

A lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, e os pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de suas condições clínicas.

Fonte: Correio do Estado

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Redação

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